Formado pela dupla Bruno Verner e Eliete Mejorado, radicados em Londres, desde 2000, o Tetine vem criando uma série de trabalhos autorais em música, performance, filme/vídeo/instalações e spoken word, atuando em contextos diversos tanto na cena musical quanto artística desde a sua criação em São Paulo em 1995. “Animal Numeral”, lançado pelo selo Slum Dunk Music, é o 20º álbum do duo, gravado e produzido durante o primeiro semestre de 2019 no bairro de Hackney em Londres.

O vídeo de “Canibalia” – dirigido por Eliete Mejorado – é uma faixa eletrônica experimental sintética, dissonante e lírica, evocando questões sobre o ‘novo’ corpo digital-orgânico e suas pulsões de morte, sexo, prazer e vida. Um grito ambíguo psycho-sexual trans-humano sobre corpos digitais [e analógicos] em meio a paisagens sonoras tensas. O corpo desgastado trans-humano em movimento perpétuo, reprogramado rítmica e cognitivamente por forças existências invisíveis (afetivas, numéricas, hormonais e de linguagem); testado, provado, idealizado, racializado, sugado, e re-introduzido em porções cósmicas de tempos e espaços contaminados.

Concebido como uma performance sobre procedimentos de exaustão do próprio corpo à serviço do gozo, o clipe traz  Sharmuta Afi – antigo persona/alter-ego de Bruno Verner recorrente em outros happenings e vídeos do Tetine como “IF” e “Poema em Linha Direta/ Endless ABC ”, assim como em ações de caráter mais experimental do grupo desde 2001 –  habitando o que Sharmuta entende poeticamente como um “não-lugar”; um espaço-tempo real, como uma zona não-metafórica, sufocante, misteriosa e opaca inserida em algum lugar entre a cidade e o mar. Em outras palavras, um espaço destinado a livrar o seu próprio corpo do ódio. Um entorno de renascimento físico, espiritual, religioso e sexual onde a canibália (digital ou não) se procria incessantemente para comer seu próprio coração, assado. E o tempo, é apenas uma construção; uma terceira dimensão para organizar realidades ou sonhos.

“Canibalia” é a música de abertura de “Animal Numeral”, com Bruno nos vocais, além de teclados e programações. Definido por Bruno e Eliete como “um álbum ao mesmo tempo ‘distópico-utópico’ de synthpop lírico”, e concebido como uma espécie de grito ambíguo sobre o fim do mundo como ainda o conhecemos, “Animal Numeral” traz um Tetine lírica e politicamente afiado, reintroduzindo, sem pedir licença, sua poética tropical mutante punk-funk contra as forças do capital para uma nova geração que começa a conhecer o trabalho da dupla agora.


Não resista! Música de invenção independente, sem algemas e de beleza estranha.

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